quinta-feira, 5 de maio de 2011

É possível ser um estudante da Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) ?

O que são METODOLOGIAS ATIVAS DE ENSINO APRENDIZAGEM (MAEA)?

As metodologias ativas de ensino aprendizagem (MAEA) – na verdade métodos ativos de ensino-aprendizagem (Mitre et al., 2008) –  as quais pertencem a uma nova cultura pedagógica, que tem como pressuposto estimular os estudantes a construir o próprio conhecimento, desenvolvendo habilidades específicas e a capacidade para identificar e encontrar soluções para os problemas, baseando-se no método científico, no trabalho em equipe e na elevada consideração ao contexto social e ambiental das pessoas.

Dentre as principais MAEA destacam-se a Problematização – ou Ensino Baseado na Investigação (Inquiry Based Learning) – e a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP; em inglês PBL = Problem Based Learning), ambas centradas no estudante – compreendido como o sujeito responsável pela construção de seu próprio conhecimento –, porém com algumas características distintas.
Na Problematização o sujeito precisa vivenciar uma situação real, a qual estimula a busca ativa de conhecimentos para a abordagem da mesma.
Em relação à Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), esta representa uma MAEA desenvolvida inicialmente em escolas de medicina, que se caracteriza pelo estímulo à responsabilidade pela construção do conhecimento, apropriando-se, assim, dos conteúdos relevantes (SAKAI E LIMA, 1996).


Breve histórico da ABP

A ABP foi inicialmente implantada, no âmbito da educação médica, a partir de 1969, na Universidade de McMaster, em Toronto, Canadá. Nesta instituição, tornou-se estratégia de reorganização global do currículo, a qual incluiu a integração de ciências biomédicas básicas, em um único programa, que logo foi seguido por outras escolas médicas estadunidenses.

Logo depois, outras três escolas médicas – A Universidade de Limburg, em Maastricht, Holanda, a Universidade de Newcastle, na Austrália e a Universidade do Novo México, nos Estados Unidos – adotaram e adaptaram o modelo de ABP de McMaster (DONNER & HARMON, 1993). Esta última foi a primeira escola médica a estruturar o currículo em ABP e a instituí-lo, inicialmente, como uma “alternativa”, mantendo o currículo convencional como o formato padrão instrutivo. Na época, a maioria dos estudantes da Universidade do Novo México (UNM) optou pelo ensino tradicional, enquanto um pequeno número aderiu à formação pela nova proposta. Em seguida, 1982, a Universidade de Medicina na Geórgia, dedicou-se, com todo empenho, à implementação da ABP, tendo sido a primeira a escola de Medicina, dos EUA, a empregar a ABP como única opção de estrutura curricular (DONNER & HARMON, 1993). Seguiu-se a este pioneirismo a implementação da ABP na Escola de Medicina de Harvard (1984) e em diversas universidades no mundo todo (CYRINO & TORALLES-PEREIRA, 2004).

A aprovação da ABP pela Universidade de Harvard, em 1984, foi considerada também um marco na história das MAEA. Inicialmente o novo currículo foi implementado como proposta paralela ao currículo tradicional e, mais tarde, o mesmo foi adotado como padrão de ensino para todos os estudantes de medicina. Sendo assim, a Universidade de Harvard é considerada um exemplo de escola médica que partiu de um ensino tradicional, obtendo sucesso em seu projeto de implementação da ABP, apesar das dificuldades financeiras e políticas (CYRINO & TORALLES-PEREIRA, 2004). 
No Brasil – primeiro país da América Latina a ter currículos baseados em ABP – a Faculdadede Medicina de Marília (FAMEMA), em São Paulo, e o Curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná, foram os pioneiros na implementação do currículo organizado em ABP, em 1997 e 1998, respectivamente. No estado do Rio de Janeiro, a primeira instituição a adotar a ABP no currículo foi o Centro UniversitárioSerra dos Órgãos (UNIFESO), em 2005. Atualmente, muitas escolas médicas em quase todos os países do mundo – incluindo universidades brasileiras – estão constituindo currículos estruturados por ABP, em maior ou menor grau. Além disso, a ABP vem sendo adotada em outros cursos da área da saúde – tais como: enfermagem, odontologia, farmácia, medicina veterinária e saúde pública – e, igualmente, em instituições formadoras de diferentes campos do saber, mencionando-se arquitetura, negócios, direito, engenharia florestal, ciências políticas e sociais, educação e muitos outros (DONNER & HARMON, 1993; FEUERWERKER, 2002). 



O Currículo na ABP
A ABP é uma proposta de reestruturação curricular que vem sendo aplicada aos cursos de graduação, em diferentes campos do saber, com destaque para a área médica (FEUERWERKER, 2002), apresentando sua base de inspiração nos "princípios da escola ativa, do método científico, de um ensino integrado e integrador dos conteúdos, dos ciclos de estudo e das diferentes áreas envolvidas, em que os alunos aprendem a aprender e se preparam para resolver problemas relativos a sua futura profissão" (BERBEL, 1998, p.152).
O currículo, na proposta da ABP, visa principalmente à integração dos conteúdos, articulando sempre teoria e prática (CÉZAR et al., 2010), correlacionando às diferentes áreas do saber, levando em conta os problemas prevalentes de saúde.  Desta feita, são elencadas e organizadas as competências que os estudantes deverão adquirir até o final do curso. O ponto de partida são as situações-problema – trabalhadas em grupos tutoriais –, possibilitando que o estudante construa, autonomamente, o seu conhecimento (CÉZAR et al., 2010).

ABP no Curso de Medicina do UNIFESO

O Curso de Medicina do Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO) foi criado em 1970. O Curso oferece 72 vagas por semestre, conta com cerca de 200 professores e está vinculado ao Centro de Ciências da Saúde do UNIFESO.
O Curso é de tempo integral, com duração de seis anos, sendo a proposta do curso a de um novo olhar sobre os processos saúde/doença baseado em metodologias ativas de ensino / aprendizagem.
Nestes quase 50 anos de existência, o Curso de Medicina promoveu diversas mudanças curriculares e acumulou experiência para enfrentar os desafios das mudanças sociais. 


O UNIFESO vivencia hoje significativas mudanças em sua metodologia de ensino, e o Curso de Medicina foi o precursor de tais mudanças na instituição.
O curso implementou a mudança curricular a partir do segundo semestre de 2005, orientada pelas Diretrizes Curriculares do Ministério da Saúde. A mudança se caracterizou pela implementação de um currículo norteado pela MAEA da ABP, a qual é centrada no estudante, com trabalho em pequenos grupos, inserção nos cenários de prática desde o primeiro período preconizando um estudante autônomo, crítico e reflexivo. É dessa forma que o curso tem como base um currículo integrado, que privilegia a articulação entre teoria e prática e adota o referencial construtivista para sua ação pedagógica que pressupõe “criar condições adequadas para que os esquemas de conhecimento, inevitavelmente criados pelos estudantes, sejam os mais corretos e ricos possíveis” (Coll, 2000). 
O modelo pedagógico do Curso de Medicina do UNIFESO apresenta como objetivo geral, portanto, formar um médico com uma compreensão mais consistente e ampliada acerca do processo saúde-doença e seus determinantes, competente para o exercício da profissão e consciente de seu papel social enquanto cidadão.

(Caderno de Orientação do Estudante de Medicina do UNIFESO, 2011).


Atividades Curriculares
O Curso de Graduação em Medicina está estruturado em 12 períodos.
Do 1º ao 8º período suas atividades são desenvolvidas a partir das metodologias ativas e do 9º ao 12º períodos, no internato médico, o aprendizado dar-se-á em estágio supervisionado seja nas UBSFs, estágios eletivos ou em unidades hospitalares.

Cenários de ensino aprendizagem do 1º ao 8º períodos 

I- Módulo Tutorial

 - Tutorias
Atividades desenvolvidas em pequenos grupos, na qual o "tutor" exerce o papel de facilitador da discussão, compreensão e raciocínio, estimulando o processo de descoberta e busca de novos conhecimentos. Cabe ao tutor orientar os estudantes para o trabalho em equipe mediado pelas metodologias ativas. Desenvolvem-se através de dois momentos semanais.
Os estudantes são apresentados a uma situação-problema e/ou narrativa da prática elaborada por uma comissão composta de profissionais de diversas áreas do conhecimento (equipe de construção de problemas).

- Conferências
Atividades semanais proferidas por professores e/ou convidados, realizadas na forma de palestras, mesas-redondas, painéis e oficinas, de acordo com o tema abordado e as necessidades identificadas nas sessões de tutoria, no Módulo de Práticas Profissionais ou nas atividades que envolvam o trabalho com as comunidades.


II- Módulo de Prática Profissional (MPP)

- Laboratório de Ciências da Saúde (LCS)
Conjunto de laboratórios que tem como função primordial atender aos estudantes dos cursos do Centro de Ciências da Saúde (CCS), na perspectiva pedagógica das metodologias ativas do processo ensino aprendizagem e da aprendizagem significativa.

- Instrutorias
Atividades que objetivam favorecer o desenvolvimento de habilidades para a prática profissional. São realizadas pelos professores / instrutores que orientam e supervisionam os estudantes no desenvolvimento de habilidades específicas realizadas nos diversos laboratórios de aprendizagem.

- Consultorias
 Atividade que objetiva complementar a aprendizagem. Pode ser agendada pelos estudantes como atividade individual ou em grupo. Todos os professores / instrutores são consultores em sua área de especialidade. 
- Laboratório de Habilidades – LH 
 O LH, utilizado desde o início do curso, torna o estudante apto, gradativamente, a realizar procedimentos necessários para a sua prática. A presença a estas atividades é obrigatória. Vale ressaltar que o LH está também disponível para utilização nos períodos destinados à Atividade Autodirigida (AAD), tendo como facilitadores os monitores.

- Integração de ensino trabalho cidadania - IETC
Do primeiro ao quarto períodos os estudantes são distribuídos aleatoriamente em pequenos grupos, sendo que cada grupo é encaminhado para uma Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) ou outros cenários onde se integram às atividades dos serviços de saúde e à comunidade. A presença a esta atividade é obrigatória, e o desempenho faz parte do processo de avaliação do estudante.

- Cenário Complementar de Aprendizagem – Centro de Capacitação em Base de Dados (CCBD)
Constituído de laboratório equipado com computadores com acesso à Internet, onde os estudantes serão capacitados para acessar os principais sites de busca de informação na área da saúde, sob supervisão de um Professor / Instrutor.


Atividade autodirigida (AAD): São turnos para atividade autodirigida, momentos não presenciais, que permitem a busca do conhecimento de forma autônoma, nos diversos cenários de aprendizagem (laboratórios, consultorias das diversas especialidades disponíveis, monitorias, biblioteca etc.). Têm como finalidade preservar o espaço de estudo pessoal.

(Caderno de Orientação do Estudante de Medicina do UNIFESO, 2011).

A partir dessas mudanças, que profissional o UNIFESO quer formar?

Um médico capaz de oferecer atenção integral e contínua aos problemas de saúde da população, com base na responsabilidade, na capacidade de comunicação interpessoal e no respeito às diferentes culturas, permitindo um agir de forma ética, investigativa, crítica e reflexiva, em interação com os serviços de saúde e com a comunidade.

(Caderno de Orientação do Estudante de Medicina do UNIFESO, 2011